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Buffoniando

Trabalho em casa nos tempos da quarentena…

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Foto: Reprodução/Google

Prezados leitores, espero que esteja tudo bem com vocês e seus familiares. O texto de hoje será muito informal e um mix de experiências, tanto minhas quanto as compartilhadas por outros amigos. Acredito que a maioria sabe que sou professor. E como professor tivemos que passar a lecionar de salas virtuais diretamente ou indiretamente, ou seja, gravando aulas e subindo para que depois os alunos possam acessar.  Embora tivesse experiência em salas virtuais, estúdios de gravação e Youtube, essa experiência tem sido bastante desafiadora. Pois, fomos jogados de forma abrupta nessa modalidade.

 

No dia 13/03/2020, o governador do Rio de Janeiro (a razão dessa ênfase é devido eu morar no RJ) estabeleceu a orientação de fechar locais que gerassem aglomerações. Nessa tacada encontravam-se os cursos preparatórios, as escolas e as universidades. Para as universidades particulares, essa questão foi facilmente atendida por já contarem com plataformas que atendam a essa modalidade. Entretanto, universidades como a UERJ, preferiram esperar o cenário pandêmico passar e readaptar a vida acadêmica. Essa questão também pegou de surpresa as escolas particulares. Inúmeras escolas não tinham uma plataforma de ensino virtual e tiveram que se arrumarem em tempo recorde para que não ocorresse perdas de matrículas. O mesmo cenário foi encontrado nas escolas estaduais e municipais. Nessas duas últimas, muitas vezes faltam professores, merenda, cadeiras para sentar… dirá internet. Mas isso é papo específico para outra postagem.

Uma série de plataformas, estratégias, e treinamentos sem fim começaram a ser realizados. Pode parecer besteira, mas há professores que trabalham em três ou quatro instituições diferentes e cada uma com uma suporte virtual diferente. Realmente é de entrar em curto a cabeça do professor! Além de dar conta de inúmeros conteúdos e estratégias pedagógicas, os professores também passaram a ter que se virar em gravações de aulas e edições. Pode parecer piada, mas os relatos que eu escuto é que é infinitamente mais fácil dar aula para um auditório lotado do que para uma câmera focada em você. Falta o calor humano, o burburinho, a resposta em um olhar ou de uma postura corporal. Falta o organismo vivo. Muitos relatam que essa falta de retorno, não dá a dimensão de como está sendo a aula. Pois, com um franzir de testa, sabemos se a aula atende ou não, e caso não esteja atendendo, nos reinventamos ali na hora.

Os colegas também argumentam da dificuldade que é de trabalhar em casa. Não que seja ruim. Mas é que o contexto é de isolamento social. Os professores que tem filhos mais crescidos é mais tranquilo. São mais maduros. Já os que possuem filhos pequenos – como meu caso, uma filha de cinco anos -, eles não entendem e não sabem separar os horários. Para eles, quem está ali é o pai e a mãe dele. E eles querem já a atenção deles. Durante a gravação ou de uma aula ao vivo, pode ocorrer uma sonora gargalhada, um choro, um to com fome, um quero ir ao banheiro… No meu caso, isso gera gargalhadas dos meus alunos, pois são jovens e adultos. Mas isso atrapalha quando é minha esposa, pois ela leciona em ensino infantil. Alfabetiza crianças em inglês. Aliás, nossa filha é aluna da minha esposa na escola. Diante disso, quando a aula pode ser gravada, gravo na madrugada, quando a fera está dormindo. O que não pode ser o caso da minha esposa, pois, todo dia seu expediente é no horário da escola. Sem contar os recursos que ela monta com slides, recortes, musiquinha, etc. Fica horas além da aula produzindo material. Além disso tudo, os pais anida devem acompanhar as lições e as aulas virtuais, independente da idade dos filhos. Mas o que revolta é que muitos pais não fazem isso, independente da idade.

De fato, essa realidade não afeta somente os professores que lecionam de casa. Muitos relatos de outras profissões assemelham-se ao caso do professor, com a diferença de não ter que editar e gravar aulas. O que leva ainda mais tempo. Parece que o professor está 24h trabalhando. Mesmo estando em casa. E aqui observamos os níveis de estresse crescendo exponencialmente. O trabalho em casa não trouxe a qualidade de vida tão sonhada; o isolamento social trouxe a retirada das nossas fugas (futebol, salão, barzinho, dança, etc) que nos dão combustível para enfrentar o cotidiano; trouxe o estado depressivo para os que não conseguem se adequar ao mundo virtual do ensino, por causa sentimento de incapacidade; a ansiedade e o desejo que tudo passe ou pela incerteza de como ficará sua profissão daqui para frente; tem causado dores na coluna devido ficar horas na mesma posição e muitas vezes numa postura errada; dor nos olhos devido ficar horas exposta à luminosidade dos notebooks; também devido ao excesso de luminosidade ou por ansiedade, a insônia; transtornos alimentares; enfim, a lista é grande.

Sabemos que o trabalho é uma atividade em que o homem se realiza e, por meio dele também sobrevive. Também sabemos que o mundo das profissões evoluem de acordo com o avanço tecnológico. Também sabemos que devemos estra preparados para esses sobressaltos. Mas uma questão que ficará de registro daqui para frente é: a figura e a presença do professor são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. Não é só uma questão de compartilhar conhecimentos acadêmicos, mas também as experiências, é o afeto, é a sociabilidade, é formação de sujeitos éticos e cidadãos no sentido orgânico da vivência e não apenas das páginas dos livros. Seres humanos são animais gregários e orgânicos, por isso, a escola física deve permanecer com sua existência.

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