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Buffoniando

Hefesto

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A mitologia é uma das primeiras formas do homem tentar entender a si e o mundo que o rodeia. Antes do surgimento da filosofia, pelo menos na Grécia, a mitologia era uma forma de explicar e dar certas respostas aos homens. “Mythos” possui o significado de narrativa e nada mais do que isso. Essas narrativas partem de histórias em que deuses manifestam e fazem atos grandiosos. A palavra mito, não possui nenhuma relação com mentira. A questão é que: a mitologia envolve um aspecto religioso para oferecer respostas aos homens. Sendo assim, de modo genérico, podemos entender que qualquer história narrativa com feitos maravilhosos e com participação divina, é uma mitologia.

Durante alguns séculos, essa palavra também foi utilizada para diminuir as histórias da religião alheia. A religião verdadeira é a minha, as outras são crendices e mitologia. Entretanto, as mais variadas civilizações pelo mundo possuíam seu construto religioso. Sendo assim, afirmar uma cultura sobre a outra, nada mais é do que preconceito e etnocentrismo.

O mito de Hefesto, assim como os demais mitos, nos ajuda a entender a história e a cultura de uma civilização. Pois, essas narrativas refletem nos deuses a imagem da sociedade daquela época. Hefesto era o deus grego do sol, metalurgia, da mecânica, da engenharia e da engenhosidade. Deus do trabalho físico e bruto, como também do trabalho seguido da inteligência. Mas na verdade, Hefesto é um deus que não habitava o Olimpo. Filho legitimo de Hera e Zeus, ao nascer e ver que ele não era portador de beleza e ainda era coxo (manco), Hefesto foi lançado do céu por sua mãe e ao cair no mar foi apanhado e adotado por Tétis e Eurínome, que cresceu afastado numa montanha, local aonde desenvolveu suas habilidades. Hefesto na mitologia latina é chamado de Vulcano.

Esse mito nos apresenta algumas características pertinentes da sociedade da Grécia Antiga. A primeira é: as crianças que nasciam com alguma necessidade especial eram lançadas em um precipício. Em uma sociedade como Esparta, voltada para a formação militar, uma criança ou adulto assim iria prejudicar as linhas de combate. Seria um elo fraco na corrente. Por isso, sacrificavam. Outra ideia também pode ser por não apresentar capacidades laborais eficientes, o que ainda assim seria um estorvo. Em Atenas, não era diferente. Mesmo com uma formação voltada para as artes, filosofia, matemática e outras áreas do conhecimento. Além da explicação da funcionalidade anteriormente citada, uma criança deficiente era vista como um castigo ou maldição dos deuses. Sem contar que em Atenas, local que surgiu a ideia de padrão de beleza no Ocidente, o feio deve ser escondido. Até aniquilado.

A segunda é: Hefesto casou-se com Afrodite. Isso mesmo, o considerado grotesco casou-se com a deusa mais bela e a deusa da beleza. Mas não foi por amor. Zeus determinou esse casamento. Sim! O casamento foi uma ordenança paternal. Isso mostra que na sociedade grega, a mulher, por mais poderosa que fosse, tinha que atender os desejos do pai. A sociedade era controlada pelos homens e a mulher tinha um papel menor. Mesmo em Atenas, que possuía uma padroeira e tinha o nome da mesma, a mulher era submissa. Em Esparta, a mulher possuía um papel político um pouco melhor, mas ainda assim, um ser menor.

A terceira é: Hefesto se vingou da mãe. Sim! Os deuses gregos, como os demais de outras mitologias, são vingativos, ciumentos e até possessivos. Isso quer dizer que os deuses possuíam características não somente físicas iguais aos homens, mas também emocionais e sentimentais. Se os deuses podem ser vingativos, então a humanidade tá livre para ser o mesmo. Embora os deuses não concordem (que ironia!).

A sociedade atual é contra a prática dos povos tracionais de abandonar na floresta as crianças que nascem com alguma necessidade especial, ou que pelo menos aparente. Como mencionamos acima, em um povo em que o trabalho braçal é a sobrevivência do grupo, ter alguém que não trabalhe e ainda pode atrapalhar, não é bem-vindo. A sociedade Ocidental preza pelos Direitos Humanos, sendo ele o principal: a vida. Hefesto ou Vulcano é um bom exemplo de não julgar pela aparência, pois os que zombavam dele, não tinham nem um pouco de suas habilidades e inteligência.

 

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