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Buffoniando

O amor

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O texto de hoje é uma contribuição do meu primo. Pedi a ele para que ele compartilhasse conosco a experiência de ser pai do Daniel. Quer saber o que essa experiência possui de tão linda? Continue ligado no texto e conheça seu trabalho real: a poesia. Ser pai do Daniel não é trabalho, é um presente! Não é @kelm_machado?

 

 

Texto original Klem Machado – poeta o tempo todo

 

Cabelos, muitos cabelos. Era somente o que via ou o que conseguia ver. A quantidade de cabelos me chamou a atenção e serviu como um exame de DNA natural – Não que houvesse a necessidade, nunca houve a menor sombra de dúvidas quanto a isto, mas era tanto cabelo que as comparações eram invitáveis – incluindo as sobrancelhas finas e bem delineadas como as minhas eram na infância.

 

O médico, ao longo da gestação e após o parto, nunca nos informou da possibilidade de gerarmos um filho sindrômico. Então o susto, a tristeza e o não saber o que fazer inicialmente foram inevitáveis.

Logo descobrimos que, a partir daquele momento, seria um dia de cada vez: muito aprendizado, especialização em leituras de bulas farmacêuticas e algumas noites de sono perdidas – no caso do Daniel foram poucas, pois até hoje ele deita e dorme profundamente, salvo se estiver sentindo alguma dor ou incômodo.

Daniel nasceu com um problema no intestino que ocasionou a necessidade de se realizar uma operação bastante delicada e invasiva que nos obrigou a morar no CTI de uma clínica Tijucana por aproximadamente quatro meses. Daniel, com seis meses de vida, não recebia a alimentação pelo modo tradicional. Teve uma sonda inserida em sua traqueia até o estômago, por onde recebia uma alimentação láctea de valor bastante elevado.

 

Dividimos o dia em dois plantões – posto que Dani, menor de idade, necessitava de acompanhamento constante dos seus responsáveis: eu e Mônica –  Ela conseguiu transferência para o plantão noturno (sorte nossa que na empresa em que ela trabalhava havia este turno) e ficou com o plantão diurno e eu trabalhava no horário comercial e fiquei com o plantão noturno.

Haviam noites em que Daniel não conseguia paz para dormir. Eu ficava incomodado com isto e certa vez, com algumas manobras difíceis, consegui me enfiar entres os tubos aos quais ele se encontrava “preso” e o coloquei sobre minha protuberante barriga – uma prática comum que fazia desde os seus primeiros dias em casa – observando que havia uma acomodação imediata do bebê, que adormecia quase que imediatamente, criamos laços, fortíssimos laços e vínculos, vínculos de barriga, como diz até hoje sua mãe.

Ao longo dos anos, em 2020 completaram-se dez, aprendemos a lidar com uma criança super feliz, capaz e guerreira. Aprendemos a tratá-lo como uma criança que não possui as limitações de uma criança portadora da síndrome de Down, instruindo-o a ser independente. Afinal de contas as travessuras e má-criações são as mesmas das crianças não sindrômicas.

 

Acompanhamos todos seus os passos, toda sua evolução e a cada conquista incentivamos e celebramos como se ganhássemos um Oscar ou uma medalha olímpica. Aos três anos andou pela primeira vez, no último dia do ano, faltando dez minutos para o réveillon; emoção pura e límpida. Mais ou menos nesta época começou a abandonar as fraldas e ir só ao sanitário

Aos sete anos, após muitas terapias, começou a falar por palavras. A comunicação nunca foi problema para ele que sempre tinha um gesto para se expressar e até hoje conservou alguns gestos característicos como quando deseja azeite ou farinha no seu prato. Interessante que ele encontrou um jeito todo seu para demonstrar que está com fome para almoçar ou para fazer um lanchinho. Não consigo descrever, mas se você, leitor, o vir fazendo alguns destes gestos vai saber decifrar o significado na hora.

Hoje me chama de amor – pode uma coisa destas? – e a mãe, Mônica, é a Mômonica. Ele chega de repente, nos beija e diz delicadamente: Te amo! Ou, com ciúmes, quando nos vê próximos, se enfia no meio e diz “famiiiaa” (famíliiiaa). Posso dizer que Daniel me tornou uma pessoa melhor e em constante busca de crescimento e melhoria. Uma pessoa que tenta se colocar no lugar do próximo, embora nem sempre consiga, pois ele também me ensinou a enxergar a maldade humana que habita em todos nós (Aproximadamente 70% dos pais de filhos especiais os abandonam – o filho e a mãe – à própria sorte.) Mas a maldade é um ínfimo detalhe que aprendemos – com ele, sempre com ele – a contornar com bom humor e muito, muito, muito amor. Pois os especiais são especiais por amar intensamente.

 

 

 

 

Bio

Capa do livro

 

 

Klem Machado – Poeta, contista, escritor

Nativo e cativo de amores pela Baixada Fluminense, amantes das letras e das artes, sempre se sentiu fascinado pelo universo literário. Procura se debruçar sobre o universo feminino, tentando captar seus desejos, sonhos, anseios e a mudança revolucionária que vêm promovendo no Brasil e no mundo. Autor do livro Pecado é apenas uma palavra sinônimo de desejo – Mulheres de fibra e coragem vencendo preconceitos.

 

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