Aconteceu
Sob gritos de “abaixo a ditadura”, cubanos saem às ruas em protesto contra o governo
Gritando “liberdade” e “abaixo a ditadura”, centenas de cubanos saíram às ruas.
Miguel Mario Díaz-Canel Bermúdez. Em uma rápida pesquisa pelos motores de busca da internet, ele é apontado como o homem que é o presidente de Cuba. Alguns setores da imprensa se negam a chamá-lo de ditador comunista. De acordo com informações da BBC, porém, os fatos são expostos: com a disseminação e aumento de gritos de “liberdade” e “abaixo a ditadura”, ele pediu a seus apoiadores comunistas que saíssem às ruas para “enfrentá-los”.
“Estamos convocando todos os revolucionários do país, todos os comunistas, a tomarem as ruas e irem aos lugares onde essas provocações acontecerão”, disse Miguel numa mensagem transmitida em todas as redes de rádio e televisão da ilha na sequência dos protestos.
Dezenas de cidadãos cubanos, por meio das redes sociais, transmitiam em live as manifestações que pediam mudanças e que começaram na cidade de San Antonio de los Baños, a sudoeste de Havana, e que acabaram se espalhando para outras cidades, de Santiago de Cuba, no leste, até Pinar del Río, no leste.
Procurado, o Centro Internacional de Imprensa, que vale lembrar, é a única instituição governamental autorizada a prestar declarações à imprensa estrangeira, não deu uma resposta imediata para dizer qual a posição do governo.
A repressão é forte no país, e a revolta é perceptível, ao se observar que manifestantes contra o regime comunista cubano, capotaram um veículo da Polícia Nacional Revolucionária na cidade de Camagüey.
Protesters against the Castro regime flipped a National Revolutionary police vehicle in the city of Camagüey. #SOSCuba pic.twitter.com/b7u01FnMsK
— The Post Millennial (@TPostMillennial) July 12, 2021
Em uma transmissão pela TV, Díaz-Canel afirmou que seu governo “está pronto para tudo e que estará nas ruas combatendo”. No comunicado, ele acusou os manifestantes de serem uma “massa revolucionária” e disse que seu governo não irá admitir que nenhum dos que ele classifica como “contra-revolucionários, mercenários e vendidos ao governo dos EUA” se deixe levar por “estratégias de subversão ideológica” para desestabilizar o país.
“Haverá uma resposta revolucionária”, disse ele, conclamando os “comunistas” a enfrentar os protestos com “determinação, firmeza e coragem”.
🇨🇺CUBA | O ditador Miguel Díaz-Canel promete que haverá sangre: “É por isso que apelamos a todos os revolucionários comunistas para que saiam às ruas onde serão realizadas essas provocações e enfrente-os de forma decisiva”. pic.twitter.com/JArv28sOV1
— Maria Laura Assis (@MLauraAssis) July 12, 2021
O apelo do ditador cubano provocou revolta e indignação nas redes sociais da ilha e entre opositores, que apontaram que ele estava “convocando uma guerra civil”.
#Cuba Qué irresponsabilidad… esto es el llamado a una guerra civil: “La orden de combate está dada, a la calle los revolucionarios”, amenaza Miguel Díaz-Canel #SOSCuba #CorredorHumanitario
— Yoani Sánchez 🇨🇺 (@yoanisanchez) July 11, 2021
Em meio aos protestos, relatos de cidadãos cubanos mais uma vez refutaram comentários como o de Felipe Neto, que afirmou em seu Twitter ter “dito o óbvio” com relação a saúde em Cuba ser “de ponta”. O youtuber teen alçado ao posto de intelectual pela imprensa, reconheceu que há ditadura em Cuba. Contudo, apesar de dizer que para o Brasil não defende esse modelo, continuou tecendo elogios e disse ainda que “há muita segurança” no país em que agora, os cidadãos protestam e sofrem repressão do governo.
Eu sou um defensor da democracia representativa e serei sempre contra regimes autoritários.
Mas o cara me perguntou se alguém já venceu na vida num país socialista.
Ora porra, eu só falei o óbvio: em Cuba não há analfabetismo, a saúde é de ponta e gratuita e há MUITA segurança.
— Felipe Neto (@felipeneto) May 12, 2021
Em contato com a BBC News Mundo, vários cubanos afirmaram que seus parentes morreram em casa sem receber atendimento médico ou mesmo em hospitais por conta da falta de remédios.
Alejandro, apontado como um dos manifestantes em Pinar del Río, afirmou que dezenas de pessoas pararam em frente a um dos principais parques da cidade e depois marcharam por uma rua principal.
“Vimos o protesto em San Antonio e as pessoas começaram a sair às ruas. Este é o dia, não aguentamos mais. Não há comida, não há remédio, não há liberdade. Eles não nos deixam viver. Já estamos cansados”, disse por telefone.
Com o turismo praticamente paralisado, o novo coronavírus que surgiu na China teve um impacto intenso na vida econômica e social da ilha. Algo que parece ter sido a gota dágua para que uma crescente inflação, apagões elétricos e escassez não só de alimentos, como também de medicamentos e produtos básicos fizessem a população se revoltar contra o regime comunista.
O governo cubano atribui a situação ao embargo dos Estados Unidos e questiona as campanhas #SOSCuba e #SOSMatanzas como uma “campanha midiática” para “lucrar” em uma situação de crise de saúde.
As redes sociais da ilha têm servido nos últimos tempos para que os cubanos expressem seu mal-estar com relação ao governo e à situação no país.
Pra quem não sabe, os protestos em Cuba, pelo fato de ser uma ditadura, são muito incomuns e, quando acontecem, imediatamente são reprimidos. Pra você ter uma ideia, antes deste domingo, o maior protesto ocorrido no país desde 1959, aconteceu em 1994 em frente ao Malecón em Havana, mas se limitou à capital e apenas algumas centenas de pessoas participaram.
Em 2016, uma matéria da Curiozone mostrou que cubanos que conseguiram fugir de Cuba e foram para Miami, celebraram a morte de Fidel Castro com muita festa. Fidel Castro, líder da revolução e o ditador que levou milhares de pessoas a fugir de Cuba desde 1959, morreu em novembro de 2016.
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