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Buffoniando

Rio de Janeiro ou Idade Média?

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Foto: Reprodução/Google

Que o Rio de Janeiro é belo, ninguém duvida. Mas a ideia desse texto não é de enaltecer o cenário arquitetônico e paisagístico da cidade. Embora seja muito tentador falar das praias, trilhas e cachoeiras espalhadas pela cidade. Mas para não dizerem que não falamos da Cidade Maravilhosa, fica o registro: até hoje é difícil cravar como surgiu a expressão, mas há caminhos que nos fazem entender esse processo. Há registros que o escrito Coelho Neto escreveu um artigo jornalístico em 1908 em que chama o Rio de Janeiro dessa forma, ao falar de como os sertanejos ficavam maravilhados. Em 1928, o mesmo autor lançou um livro que o nome era justamente, Cidade Maravilhosa. O contexto das reformas da cidade e o embelezamento com um ar de Europa, também encantaram os europeus. Por fim, outra explicação é a da marchinha de carnaval que se tornou o hino da cidade, que foi composto em 1934 e ficou em segundo lugar num concurso. Feito esta pequena ressalva,  a intenção é compartilhar uma percepção bem particular de como o Rio de Janeiro lembra a Europa da Idade Média.

A primeira semelhança, na verdade alusão, entre o RJ e a Idade Média é a divisão territorial com senhorios. A palavra feudo significa benefício e aquele que recebia tal benefício tornava-se senhor feudal. Geralmente o feudo era um lote de terra e o senhor feudal passava a ser a maior autoridade dentro daquele lote. Os senhores feudais impunham leis e cobranças em seus territórios. Se você parar para olhar, o RJ comporta-se exatamente assim. Embora seja uma outra lógica administrativa, a referência é que a cidade –  e até o estado – são divididos em zonas que possuem domínio próprios, são elas: favelas, complexos (junções de favelas) que são geralmente ocupadas e administradas pelos traficantes e as áreas de milícia. A diferença é que o rei feudal fazia essas “parcerias” por meio da vassalagem para obter mais forças militares contra seus opositores. Já na história recente, a ausência ou a “ausência” do governo, abriu espaço para atuação  desses grupos impondo leis e cobranças paralelas para além daquelas já feitas pelo Estado.

Na época feudal, a Igreja era contra e negociava para que muitas guerras e conflitos não fossem praticados, pois era contra que a cristandade fizesse guerra contra si. Uma guerra apoiada pela Igreja era contra os islâmicos, chamados de infiéis, ou os bárbaros – como os vikings.  Desde 1891 somos um Estado laico e a Igreja não possui mais o poder político de outrora. Mas diferentemente do período citado temos, os “feudos” guerreiam entre si sem o menor problema e na contemporaneidade é a igreja evangélica que está mais inserida nesses territórios. Não queremos em nada dizer que é culpa dos evangélicos, mas sim que a presença e o diálogo com a comunidade são eles que estão mais inseridos e não o catolicismo.

Uma outra curiosidade aproximativa é a insegurança. Durante a desorganização e queda do Império Romano, que teve seu fim decretado em 476 (século V), a Europa era palco de invasões bárbaras germânicas e que trouxeram instabilidade e declínio comercial, portanto, daí a importância da ruralizarão da vida como mecanismo de sobrevivência. Para que transitar nas vias de acesso? O Risco de serem assaltados, mortos ou vítima de ataques dos bárbaros eram gigantescas. Curiosamente, essas questões cercam o RJ. As vias são mal conservadas, o risco de assalto é iminente, além de você poder está indo para o trabalho e se deparar com uma invasão bárbara (no sentido de alguma guerra da violência urbana, como invasão de comunidades). Você viu que as invasões que destruíram Roma era do povo germânico? Sabe como são chamadas as pessoas de uma área que vai em outra, aqui no RJ? Alemão!

As universidades surgiram na Europa medieval dentro dos mosteiros e possuem mais de 1000 anos de existência, que foi a Universidade de Bolonha em 1088. Séculos depois passaram a existir as universidades mantidas pela burguesia. Assim como na Idade Média, as universidades não eram para todos. Aliás, a educação não era para todos mesmo, pois como precisavam de guerreiros, a formação era para a guerra e até os reis eram analfabetos. Uma curiosidade é que embora a educação seja um direito para todos em nossa sociedade, ela continua sendo para poucos.  A que o Estado oferece é parca, e como a população em sua maioria é pobre, não consegue pagar. Tanto a educação básica como a superior. Parece que muita coisa não mudou.

Como falamos em pobreza anteriormente, a sociedade medieval era dividida em três grupos – clero, nobres e camponeses – e seu papel social era determinado pelo nascimento. Nessa sociedade havia pouquíssima mobilidade social. Os casamentos eram entre os iguais e do mesmo grupo.  Algumas semelhanças persistem, pois nossa elite tenta ainda estabelecer a visão que a pobreza é uma missão para elevar o espírito e que não deve ser questionada, pois seria uma espécie de plano de Deus para a sua vida. Ah! E os casamentos…  mudou muito não.

Pode parecer viagem da minha cabeça esse paralelo? Pode! Pode não fazer o menor sentido? Pode! Mas fica a reflexão.

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