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Esta novela foi produzida pela Globo, mas um motivo macabro impede a reprise dela

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Vale Tudo é uma novela de 1988, ano em que no Brasil, poucos tinham acesso à TV. Hoje, no entanto, ela está disponível no serviço de streaming da Globo, provando que nunca foi tão fácil rever uma novela antiga da emissora. Além do Globoplay ter um catálogo extenso de produções antigas, a tradicional faixa vespertina ‘Vale a Pena Ver de Novo’, em que são reprisados alguns de seus maiores sucessos, ainda está no ar. Além disso, folhetins que marcaram época são um dos pilares do canal Viva, de grande audiência na TV por assinatura.

Contudo, mesmo com o avanço da tecnologia que permite o resgate de obras do passado, alguns títulos nunca mais viram a luz do dia. É o caso das produções das décadas de 1960 e 1970, ainda em preto e branco. Muitas nem sequer estão completas, seja porque tiveram capítulos destruídos em incêndios ou porque foram simplesmente apagados, para que as fitas fossem reutilizadas. Outras enfrentam problemas com direitos autorais, e também existem aquelas que, consideradas fracassos de crítica e público, a emissora prefere deixar na gaveta.

Por outro lado, há o caso da novela “De Corpo e Alma”, que de acordo com informações do jornal Folha de São Paulo, chegou a dar mais de 50 pontos de audiência e foi vendida a diversos países. Segundo vários sites, a novela nunca mais foi reprisada a pedido de sua própria autora, Gloria Perez. Procurada, a assessoria de imprensa da Globo não deu resposta ao questionamento sobre as causas desse sumiço, nem confirma um acordo com a autora nesse sentido.

Uma reportagem do site Notícias da TV, no entanto, afirma que a emissora pensou em reprisar a história em maio do ano de 2000. Contudo, evidentemente, a reprise não saiu do papel.

É perfeitamente compreensível que Gloria Perez não queira que “De Corpo e Alma” volte ao ar. Isso porque um episódio trágico ocorreu em meio as gravações da novela.

A obra de Gloria foi estigmatizada pelo acontecimento mais trágico de sua vida: o assassinato de sua filha Daniella Perez, intérprete da personagem Yasmin na trama. O assassino foi ninguém mais ninguém menos que Guilherme de Pádua, colega de elenco, e par romântico da atriz.

Daniella Perez, filha da autora Gloria Perez, assassinada em 1992.

Uma reprise não somente traria lembranças extremamente dolorosas, como daria nova evidência ao assassino de Daniella Perez, hoje um pastor evangélico. Sem contar o fato de que ele ainda teria direito a pagamentos residuais, pela reapresentação de um trabalho feito 30 anos atrás.

A história da novela

“De Corpo e Alma” estreou em 5 de agosto de 1992, marcando a estreia na Globo de Cristiana de Oliveira. Dois anos antes, a atriz havia explodido como a Juma Marruá da primeira versão de “Pantanal”, da TV Manchete.

Cristiana fazia Paloma Bianchi, uma jovem que recebe um coração transplantado. Esse coração vinha de Betina Lopes Jordão, papel de Bruna Lombardi, personagem que na trama havia morrido em um acidente de trânsito.

Betina era um amor do passado do juiz Diogo Varela, vivido por Tarcísio Meira, que ele reencontrava muitos anos depois. Novamente apaixonado, Diogo estava decidido a se separar da mulher Antonia, interpretada por Betty Faria, e voltar para a antiga namorada.

‘De Corpo e Alma’: novela foi estigmatizada pelo assassinato da atriz filha da autora Gloria Perez, Daniella Perez.

A morte de Betina interrompe esse sonho. Desconsolado, Diogo se aproxima de Paloma. Mesmo casada com o stripper Juca, feito por Victor Fasano, ela se envolve com o juiz.

A dançarina Yasmin, personagem de Daniella Perez, era irmã de Paloma e namorada de Bira, vivido por Guilherme de Pádua, e não tinha grande importância na trama. Mas o brutal assassinato da atriz, em 28 de dezembro de 1992, acabaria por contaminar toda a novela, associada para sempre a esse crime hediondo.

O crime e os desdobramentos

Daniella foi morta aos 22 anos com 18 golpes de punhal dados por Guilherme de Pádua e sua então mulher, Paula Nogueira Thomaz. Na época, Pádua não gostou de ter sua quantidade de cenas reduzida e passou a pressionar Daniella para que Gloria Perez, mãe dela e autora da novela, desse mais importância a seu personagem. Alguns colegas de elenco começaram a perceber o assédio.

Na noite de 28 de dezembro de 1992, Daniella estava voltando para casa após as gravações da novela quando seu carro foi fechado pelo de Pádua. Minutos depois, moradores de um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, chamaram a polícia para verificar a presença de carros num matagal.

O ator Raul Gazolla, viúvo da atriz Daniella Perez.

Pádua e Paula foram presos pelo crime, mas o julgamento só aconteceu em 1997. O ator e a mulher foram condenados por homicídio qualificado, com motivo torpe. A pena dele foi de 19 anos em regime fechado, e a dela, de 15 anos. Mas ambos cumpriram muito menos tempo. Saíram da cadeia por bom comportamento em 1999.

O caso voltou a ser assunto popular por causa da série documental Pacto Brutal, lançada pela HBO Max, que conta o crime do ponto de vista da família de Daniella Perez e de amigos próximos que conviveram com a perda da jovem atriz.

Conhecida por escrever suas obras sem a ajuda de assistentes, Gloria Perez se afastou de “De Corpo e Alma” por apenas uma semana, enquanto o crime era elucidado. Durante esses poucos dias, os roteiros ficaram a cargo de Gilberto Braga e Leonor Bassères.

Yasmin e Bira, personagens de Daniella Perez e Guilherme de Pádua, respectivamente.

Assim que Guilherme de Pádua e sua mulher, Paula Thomas, foram presos pelo assassinato de Daniella Perez, Gloria retomou os trabalhos e levou a novela até o fim. Além de discutir o tema das doações de órgãos, “De Corpo e Alma” incorporou dois novos temas em sua reta final: a morosidade da Justiça brasileira e o descompasso do nosso Código Penal.

No dia 19 de janeiro de 1993, foram ao ar as últimas cenas gravadas por Daniella. O sumiço de Yasmin era explicado rapidamente: uma súbita viagem ao exterior. No final do capítulo, vários atores do elenco deram depoimentos emocionados.

Quanto ao Bira de Guilherme de Pádua, nem uma única palavra. O personagem nunca mais foi citado, como se jamais tivesse existido. Um autêntico e justificável caso de cancelamento, três décadas antes de o termo ganhar o sentido atual.

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