Pode ser sincero: você nunca imaginaria que em 2025, um jovem de 15 anos de idade seria canonizado pela Igreja Católica, mas foi exatamente isso que aconteceu no dia 7 de setembro, quando o papa oficializou a canonização de Carlo Acutis, o jovem italiano apelidado de “santo millennial”.
Com apenas 15 anos, Carlo faleceu em 2006 vítima de uma leucemia fulminante, mas deixou um legado que mistura fé, tecnologia e um estilo de vida próximo ao dos jovens de hoje. E justamente por isso, uma questão inusitada começou a surgir entre fiéis e curiosos: será que o PlayStation de Carlo Acutis poderia ser considerado uma relíquia oficial da Igreja?
Antes de responder, é importante entender o conceito. Para a Igreja Católica, uma relíquia é qualquer objeto ou resto mortal ligado a um santo, usado como meio de devoção e inspiração espiritual. Essas relíquias são divididas em três categorias:- Primeira classe: partes do corpo do santo, como ossos, sangue, cabelo ou até cinzas;
- Segunda classe: objetos que pertenceram ao santo ou tiveram contato direto com ele, como roupas, terços, livros e utensílios;
- Terceira classe: objetos de fiéis que tocaram uma relíquia de primeira ou segunda classe, ou mesmo o túmulo do santo.
De acordo com informações da rede Euronews, o videogame de Carlo (assim como seus controles) se encaixaria na segunda classe, já que fez parte da vida pessoal dele. A questão é: a Santa Sé aceitaria um console como relíquia? Até o momento, não há qualquer posicionamento oficial, mas, se isso acontecer, será um marco histórico: o primeiro videogame reconhecido como relíquia da Igreja Católica.
O santo que falava a linguagem da internet
Carlo Acutis nasceu em Londres, em 1991, mas cresceu em Milão, na Itália. Sua família não era praticante da fé católica, mas ele foi incentivado pela babá a rezar ainda pequeno. Aos sete anos, recebeu a primeira comunhão e passou a frequentar missas diariamente.
Apaixonado por computação, Carlo enxergava na tecnologia um caminho para evangelizar. Ele criou o site Miracoli Eucaristici, reunindo registros históricos de milagres ligados à Eucaristia. Essa habilidade o fez ser lembrado como alguém que usava o digital não para se afastar da fé, mas para aproximar outras pessoas dela.
Seu jeito simples e frases de impacto marcaram quem conviveu com ele. Uma das mais famosas dizia:
“Diante do sol, bronzeamos. Diante da Eucaristia, tornamo-nos santos.”
O PlayStation e a vida de um jovem comum
Apesar de sua devoção, Carlo também viveu experiências muito parecidas com as de qualquer adolescente de sua época. Ele ganhou um PlayStation aos 8 anos e, como qualquer gamer, gostava de jogar. Mas havia uma diferença: ele se impôs a regra de usar o console apenas uma hora por semana, para não perder tempo demais com os games.
O console e seus controles permanecem até hoje com a família Acutis. E é exatamente essa ligação entre um objeto tão comum no cotidiano dos jovens e a vida de um santo que desperta tanto interesse. Para alguns, o videogame poderia se tornar um símbolo único de como a fé pode dialogar com a cultura contemporânea.
Do Brasil para o mundo
Dois milagres foram fundamentais para a canonização de Carlo. O primeiro aconteceu em Campo Grande (MS), onde uma criança com uma doença grave foi curada após a intercessão atribuída ao jovem. O segundo ocorreu em 2022, na Costa Rica, envolvendo a recuperação surpreendente de uma estudante vítima de um acidente.
Esses dois episódios foram reconhecidos oficialmente pela Igreja, abrindo o caminho para a canonização.
Um santo do século XXI
Carlo Acutis é, sem dúvida, um santo que dialoga diretamente com os jovens de hoje. Ele era gamer, programador, usava a internet e, ao mesmo tempo, tinha uma espiritualidade profunda. O interesse pelo possível destino de seu PlayStation mostra justamente isso: a mistura entre fé e cultura pop que o torna tão diferente de outros santos da história.
Agora, resta a dúvida: o console será reconhecido como relíquia de segunda classe? Se for, marcará um ponto de virada na forma como a Igreja enxerga os símbolos da vida cotidiana no século XXI.