Levantamento mostra que a maioria dos usuários não cumpriu ameaça de abandonar o Twitter

Diante do fato consumado que foi a compra do Twitter por Elon Musk, de forma definitiva, muitos usuários expressaram sua indignação. Influenciadores e jornalistas progressistas não gostaram nada do fato de que agora, a rede social do passarinho azul, tem em seu comando, um bilionário que, entre outras coisas, discursou a favor da liberdade de expressão.

Longe de ser a mera aquisição de uma empresa por bilhões de dólares, o CEO da Tesla na verdade comprou uma briga com muita gente, que torceu o nariz para decisões como a de “democratizar” o tão queridinho selo de verificado, e também ressuscitar a conta de Donald Trump, por exemplo.

Em meio a tanta insatisfação, a saída natural (como em qualquer livre mercado) foi a escolha por uma alternativa ao Twitter.

Foi no meio desse furacão de mensagens que o Mastodon ganhou repercussão. A rede social, que aliás, tem uma proposta muito boa de ser descentralizada, acabou recebendo alguns usuários, mas longe de ser a maioria dos que ameaçaram abandonar o Twitter por conta de Elon Musk.

É o que mostra um levantamento preliminar feito por três especialistas em dados, e que ganhou repercussão em uma reportagem da revista New Scientist publicada na sexta (02).

De acordo com a publicação, o estudo feito com mais de 140 mil usuários do Twitter, indicou que, embora muitos tenham batido o pé para dizer que estavam deixando o site, somente 1,6% deles cumpriram a ameaça de abandonar a rede social que agora pertence a Elon Musk.

Em outras palavras, nove em cada 10 usuários só ficaram na bravata.

Um dos responsáveis pelo levantamento é Gareth Tyson, professor da Hong Kong University of Science and Tecnology. Ele acredita que não houve um êxodo maior, porque embora alguns tenham migrado para o Mastodon, a maioria dos usuários do Twitter exigiram que seu círculo de interação na rede social também estivesse presente em outro para que pudesse ir também.

O professor de ciência da computação Ignacio Castro, e o especialista Bin Zia, da Queen Mary University of London são os outros que também trabalharam no estudo. Ignacio afirma que há uma preocupação curiosa entre os que ameaçaram sair do Twitter: outras pessoas podem acabar pegando seus usernames.

Para o estudo, foi realizado um rastreamento com 1,9 milhão de tweets contendo frases ou hashtags onde o usuário sugeria que estava pensando em abandonar o Twitter. Nas postagens, deveria conter obrigatoriamente as tags #ByeByeTwitter ou #RIPTwitter, que ficaram em alta entre os assuntos mais comentados.

Os pesquisadores então analisaram os perfis dos usuários para ver se os mesmos estavam postando um nome de usuário Mastodon correspondente. Foi constatado que cerca de dois terços desses usuários se inscreveram no Mastodon com o mesmo nome de usuário.

Essas pessoas estavam espalhadas por mais de três mil instâncias diferentes, ou servidores, no Mastodon.

Para você entender, ao contrário do Twitter onde os servidores são centralizados pela empresa, no Mastodon, a plataforma funciona como uma abordagem federada, onde indivíduos ou organizações podem configurar um servidor para hospedar usuários. Cada servidor tem suas políticas de uso e regras.

A grosso modo, é como se o Mastodon fosse um email. Você pode criar uma conta de email no Gmail e interagir com outra pessoa que tem conta no Hotmail, Yahoo e assim por diante.

Do servidor onde você decidiu criar sua conta, você pode visualizar as postagens feitas por pessoas com contas Mastodon no mesmo em que você se inscreveu, ou em outros, e interagir com elas.

A reportagem da New Scientist destaca que houve um pequeno aumento no número de usuários que postaram, no Twitter, seu nome de usuário Mastodon, no que foi uma tentativa de transferir seus seguidores para a nova plataforma, nos dias após Musk revelar que havia comprado de forma definitiva o Twitter, em 27 de outubro.

Cerca de 30 mil pessoas, no dia seguinte, postaram um link do Mastodon. O número de tweets fazendo isso aumentou para quase 120 mil, três semanas depois, em 18 de novembro.

A few new Mastodon observations🧵 Seems Musk’s activities continue to create spikes in #Mastodon discussions on Twitter. We’ve spotted 144k #Mastodon handles announced on Twitter, with 89k people using the exact same username that they used on twitter. [1/4] pic.twitter.com/g2S8CZifNR

— Gareth Tyson (@Gareth_Tyson) November 25, 2022

Emiliano De Cristofaro‌ da University College London afirmou que de fato, há muitas pessoas saindo do Twitter, e que houve inegavelmente um aumento no número de usuários no Mastodon. Contudo, segundo o professor, não está claro se eles são realmente usuários ativos, ou apenas criaram uma conta e mexeram um pouco.

Um número expressivo de pessoas publicando links para seus perfis do Mastodon coincidiu com a tendência da hashtag #RIPTwitter, uma vez que os usuários pareciam temer pelo futuro imediato da plataforma. Vale lembrar que nomes como Whoopi Goldberg e Jim Carrey, de fato abandonaram o Twitter; apenas a primeira excluiu definitivamente sua conta.

Conforme a Curiozone mostrou, a rede CBS News também parece ter ensaiado uma debandada da rede social, mas a decisão não vingou por muito tempo.

Apesar de vários bugs que surgiram no Twitter como resultado de grandes perdas de empregos entre engenheiros de software, a plataforma parece continuar a funcionar de forma relativamente normal e o número de tweets diários permaneceu praticamente o mesmo desde a aquisição de Musk.

Uma análise da Social Blade, uma empresa de análise comercial, prevê que Musk se tornará o usuário mais seguido do Twitter em meados de janeiro de 2023.

Quanto ao levantamento preliminar, Bin Zia diz que os pesquisadores ainda estão coletando dados e esperam investigar quantos novos usuários do Mastodon estão, de fato, mantendo suas contas por lá.