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Buffoniando

Diminuição da inteligência

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Leandro (Buffon) é professor de história e psicólogo.

Instagram: @buffoniando

Quem nunca ouviu aquela frase: No meu tempo era melhor!  No meu tempo era diferente! Apesar de toda geração anterior ser um pouco avessa às mudanças que a sociedade vai sofrendo, a frase marca uma condescendência temporal, que toda ela, não é algo ruim. Voltemos e observemos os amantes do teatro criticando o cinema, os cocheiros criticando os automóveis, os monarquistas criticando a república, entre tantos outros exemplos possíveis. Mas a questão é, as gerações posteriores se aproveitavam das construções, reflexões e de todo o restante de arcabouço para alcançarem respostas, soluções e aprimoramento intelectual, social e científico para a nossa existência. Desde a aparição dos hominídeos, as mais variadas evoluções foram uma tônica e as gerações posteriores apresentaram um desenvolvimento cognitivo progressivo. Este fenômeno possui nome, efeito Flynn. De acordo com o pesquisador neozelandês, James Flynn, as gerações seguintes apresentam um crescimento do QI em relação aos seus antepassados.

Entretanto, pela primeira vez na história dos homens, parece que a frase citada no início do texto passou a ganhar um contorno de veracidade. Atualmente, não nos parece ser apenas um saudosismo de uma época considerada de ouro, mas um problema da ordem da cognição e do nosso aprimoramento da capacidade racional. O neurocientista francês Michel Desmurget, aponta que pela primeira vez a geração de filhos possui um Quociente de Inteligência (o famoso QI), menor que seus pais. Com uma produção científica ampla e passagem pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, o pesquisador aponta que a larga utilização de aparelhos eletrônicos estão nos deixando menos inteligentes.  As horas que passamos nos distraindo em redes sociais, nos tira a possibilidade de exercícios cognitivos que fazem nosso cérebro trabalhar e estimula sua plasticidade, além do armazenamento de informações. Hábitos que por milênios foram recorrentes, já não se encontram em grandes usos como a leitura, o escrever manualmente, usar jogos de tabuleiros, fazer contas e até brincar com outras crianças.

Tudo bem que vivemos em outros tempos e com uma sociedade bem diferente de até bem pouco tempo atrás. por exemplo, o brincar na rua estimula não só a sociabilidade e o trabalho em equipe, mas também a capacidade de criar estratégias.  Na atualidade, por conta da escalada da violência urbana, do crescimento da vida em condomínio e as facilidades da utilização de aparelhos eletrônicos, fica fácil compreender que os pais não querem expor seus filhos ao mundo lá fora. O que é extremamente justificável! No entanto, ao salvar de um perigo, não estamos dando conta que os expomos a outros mais silenciosos – que aqui só abordaremos um – a facilidade dos dispositivos eletrônicos. A utilização dos mesmos não vem acompanhada de um estímulo, um desafio e até mesmo, a frustração. Não! Tudo já vem pronto e acabado, basta consumir no melhor estilo fast food. É como se fosse uma comida que se leva ao micro-ondas e instantaneamente fica pronta. O problema é que este tipo de conteúdo e o estilo de refeição usado como analogia, não alimentam. Por isso, a pessoa precisa ficar horas  e horas nesta jornada, em que as migalhas não alimentam e nem ajudam a se desenvolver.

Ainda falando dos eletrônicos, as redes sociais que causam distração e servem para entreter, fazem com maestria seu trabalho. O Tik Tok, aplicativo mais usados entre os jovens, provoca uma estado de inércia semelhante aos resultados do uso de entorpecentes. O número de horas nestas redes sociais é um verdadeiro agente paralisante das demais áreas da vida. Isto é possível devido o Tik Tok agir na liberação de dopamina em doses muito curtas, o que oferece uma sensação de prazer muito passageira e que precisa ser alcançada novamente. Já que os vídeos surgiram com o tempo limite de 15 segundos. Tal informação pode ser comprovada nos resultados dos estudos publicado na revista científica NeuroImage.  A sensação de prazer é alimentada por um algoritmo que vai apresentar-te um conteúdo específico, de acordo com o tempo que você passa em um vídeo ou demostre que gostou com uma curtida. Basta fazer o simples movimento de arrastar a tela pra cima ou esperar um vídeo novo aparecer e todo o esquema de dopamina é reativado. Sem trabalho, sem esforço, sem reflexão e estamos produzindo uma geração menos inteligente.

Outro resultado estarrecedor é sobre a nossa atenção. Estudos realizados pela Microsoft em 2015, apontou que usuários de múltiplas telas possuem uma atenção menor que a de um peixinho dourado, ou seja, nossa atenção está na casa dos 8 segundos.  Tanto que existe uma regra dos influencers de que o vídeo deve captar sua atenção em até 3 segundos. Se não for assim, o usuário não irá ter a curiosidade de assistir até o final para ter uma noção se aquilo foi bom ou não. É muito sintomático que o poder de atenção tenha caído na medida inversa do desenvolvimento e utilização dos aparelhos. Também é sintomático o número de jovens que dizem ter TDA. Como professor e psicólogo, mas nos parece uma ausência de desafios e atividades do que uma condição genética para tal diagnóstico. A realização de tarefas citadas como a leitura, requer foco e atenção para a reter tal informação abordada.

Uma mera hipótese para nos trazer a reflexão e encerrar o presente texto, será que nossos hábitos alimentares começaram a cobrar a conta? Evidentemente que tudo que foi abordado anteriormente é um fato e que são respaldados cientificamente. Porém, juntamente com o avanço dos aparelhos eletrônicos, a indústria dos alimentos também evoluíram e moldaram nossa forma da nossa alimentação. Produtos ultraprocessados, carne animal ricas em hormônios, agrotóxicos e muita fritura, acompanhados de um sedentarismo físico e intelectual, não estariam proporcionando a regressão da sociedade (no sentido oposto de Darwin)? Um casamento que ainda vai nos impactar com muitos frutos negativos.

 

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