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Ciência

Pesquisadores identificam caso mais antigo de sífilis do mundo, e ele foi no Brasil

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Através de um estudo envolvendo ossos e dentes, foi possível identificar um caso de sífilis congênita que ocorreu durante o Holoceno, período que iniciou há cerca de 11,5 mil anos atrás e continua até os dias atuais. A pesquisa conduzida por uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) teve os resultados publicados no International Journal of Osteoarchaeology.

Conforme repercutiu uma reportagem do jornal O Globo, embora o tratamento para a sífilis seja relativamente simples e apresente altas taxas de sucesso, a propagação dessa doença na população brasileira é preocupante, visto que houve um aumento de 53% nos casos registrados entre os anos de 2010 e 2020. A origem bacteriana da sífilis é antiga no território atualmente ocupado pelo Brasil.

Sífilis: cientistas identificam caso mais antigo do mundo; ele é de 9,4 mil anos, na região de Minas Gerais.

O pesquisador do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e principal autor do artigo, Rodrigo Elias Oliveira, explica que o estudo encontrou o caso mais antigo de sífilis já identificado em um ser humano em todo o mundo: “Nós o identificamos em ossos e dentes de uma criança, de aproximadamente 4 anos de idade, que viveu na Lapa do Santo, região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, há, no mínimo, 9,4 mil anos”, declarou o pesquisador, que conta ainda que as alterações ósseas e dentárias observadas nos restos mortais da criança são características da sífilis congênita, uma das formas de manifestação clínica da sífilis venérea.

Exumação dos ossos e dentes da criança de 4 anos.

A Lapa do Santo, em Lagoa Santa, é tipo um point arqueológico top das Américas. Por lá já passaram muitos humanos há uns 12 mil anos, e encontraram mais de 200 esqueletos com crânios diferentes dos que temos hoje em dia, mas parecidos com o fóssil mais antigo encontrado na América do Sul, a famosa Luzia, que é de cerca de 12,5 a 13 mil anos atrás.

De acordo com Rodrigo, o caso da criança em questão chamou atenção por apresentar um número excessivo de cáries nos dentes, em comparação à média da população da Lapa do Santo. A partir disso, Rodrigo e sua equipe decidiram investigar mais a fundo o caso, buscando evidências de outras doenças que poderiam ter afetado a criança.

Dentes superiores apresentando muitas cáries de alterações morfológicas.

O pesquisador constatou que, além das cáries, existiam alterações morfológicas nos dentes que ainda não haviam nascido, mas já estavam presentes nos ossos dos maxilares. Foram também verificadas importantes alterações no crânio, como a ausência dos ossos nasais e lesões nas faces externas e internas da calota craniana.

A equipe responsável pela pesquisa acredita que a mãe da criança em questão tenha sido a fonte da doença, já que a bactéria responsável pela sífilis, Treponema pallidum, tem a capacidade de atravessar o saco amniótico e infectar o feto, levando a diversas alterações morfológicas ainda durante a gestação e após o nascimento: “Juntando todas as peças do quebra-cabeça, cheguei ao diagnóstico de sífilis congênita. Os estudos baseados em mutações do DNA sugeriam uma presença muito antiga da sífilis na América. Mas, até o nosso trabalho, não havia nenhuma confirmação material disso. Outros achados foram datados em épocas bem posteriores, alguns milhares de anos mais tarde”, concluiu Oliveira.

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