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Buffoniando

Religiosidade

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A semana que precedeu o carnaval, seguida dos dias de carnaval e o restante dessa semana, fez ressuscitar a questão do desfile da escola de samba Mangueira, no ano de 2020, em que mostrou um jovem negro crucificado e representando as minorias. No ano anterior, Jesus voltou a ser mostrado em um desfile, só que em São Paulo, pela Gaviões da Fiel. Aqui, a polêmica girou em torno das fortes cenas, que mostrava Jesus sendo agredido e zombado por Satanás. Essas cenas geraram muita revolta. Mas o mais curioso é que no mesmo desfile, a escola mostrava através da encenação o triunfo de Cristo sobre Satanás. Entretanto, nada disso serviu para aplacar a ira de muitas pessoas. Ainda mais pela razão de que em dois carnavais seguidos, Jesus foi representado de uma forma que não concordaram.

O mês de março de 2020 entrou para a história devido os decretos de distanciamento social por causa da pandemia. Bastou a pandemia chegar, que logo os comentários começara: “Brincaram com Deus! Agora a aguenta a punição”.  Imediatamente as redes começaram a rememorar as cenas dos desfiles e fazer referência que a pandemia, ou seja, um problema mundial, era a ira de Deus caindo sobre nós por conta dos desfiles no Brasil. Queria muito que fosse piada. Mas não é! De onde essa imagem de Deus veio? Essa visão de um deus punitivo e vingativo não é prerrogativa do judaísmo. Explicações de deus punitivos é muito comum nos primórdios das civilizações. Basta lembrar que as disputas por terras e recursos, além do objetivo de levar povos cativos era muito comum com os surgimentos das grandes civilizações. Um deus vingativo contra o povo alheio, era um motor para as batalhas. Um deus punitivo para o próprio povo, era instrumento de controle político e jurídico.  Todavia, entender Deus assim, como se ainda estivéssemos no Antigo Testamento, é no mínimo complicado. Principalmente por conta do avanço dos estudos teológicos e filosóficos.

O que está por trás dessa ideia? A resposta é: religiosidade. Quando ouvimos falar de religiosidade, temos a ideia de algo positivo. Religiosidade é observada como característica de professar uma religião, ou seja, seguir os ensinamentos. A palavra religião é oriunda do grego e significar religar. Ou seja, religar o que havia se perdido e se distanciado de Deus, o homem. Então um homem religioso, é um homem religado? Deveria ser assim! Mas quando não é, a religiosidade assume uma conotação ruim e destrutiva de si, para com o outro e com Deus.  A religiosidade é combatida por Jesus nos Evangelhos. Jesus criticava os fariseus os doutores da Lei. Esses personagens seguiam literalmente a Lei de Moisés e deixavam de fazer o que tinham de fazer, o bem.  Para ter um exemplo, bem simples: no Evangelho de Lucas , capítulo 6 e dos versículos 6-11, conta que Jesus entrou numa sinagoga e curou um homem que tinha a mão direita atrofiada. Ao verem aquilo, os fariseus questionaram a razão de Jesus ter curado alguém num sábado, já que a Lei dizia que deveria guardar o sábado. Então Jesus questiona:  O que se deve fazer de mais importante? O bem ou guardar o sábado? A religiosidade os impediam de fazer o que deveria ser feito, o bem. Notem que esse comportamento vai na contramão do esperado de um homem religado.

O conceito de religiosidade passou a ter a acepção de não ter um compromisso real com a essência dos ensinamentos. No meio cristão, Jesus ensinou até a exaustão que saber e guardar a Lei não é o suficiente. Não é condição pétrea de está conectado com Deus e muito menos fazer algo em Seu nome. Por isso, entendem que Deus é uma persona vingativa e punitiva, como no Velho Testamento. Desconsideram os males naturais que estamos todos submetidos e tentam explicar por vias, no mínimo, estapafúrdias.

A religiosidade também implica em acreditar que, pelo fato da pessoa ir para a Igreja, ouvir as mensagens e cantar, faz dela melhor que o outro.  Vivem uma vida hipócrita e ainda se acham melhor do que os outros, colocando-se como juízes dos outros. Tal qual os  fariseus faziam no tempo de Cristo. Essa ideia de ser o “melhor”, não permite aceitar o outro. Cristo, em momento algum, perseguiu ou fez separação de pessoas. Em momento algum, entrou com a intenção e a ideia de superioridade em templos alheios para destruir. O exemplo Dele foi esse, mas atualmente, em nome da religiosidade, homens entram em templos de outras religiões para vandalizar. Qual é a ligação dessas atitudes com um homem religado? Aliás, segundo a Bíblia em Mateus 21 28-32, Cristo afirma que a religiosidade é pior que a desobediência. O desobediente pode se arrepender, já o religioso corre grande risco de morrer preso às falsas convicções.  Reiterando:

Se alguém se considera religioso, mas não refreia a sua língua, engana-se a si mesmo.
Sua religião não tem valor algum!
A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta:
cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo. (Tiago 1 26-27)

Não ajudar quem necessita por não ser da mesma religião que a sua, é religiosidade! Age como os judeus contra os demais povos. Se contar que ainda defendiam que Deus punia os outros povos por algum deslize. Assim como muitos hoje defendem que a pandemia é a vingança divina por causa do desfile.  Ir para a igreja sem algum propósito, só por estar ali, é religiosidade. Por isso, não se aprofundam e nem estudam como deveriam. Daí criam explicações como se ainda tivéssemos na Idade das Trevas. Notem que as ideias advindas da religiosidade, não se sustentam, pois já são refutadas no próprio livro sagrado da religião que seguem.

Agora, Deus enviar um vírus que só no Brasil fez com que mais de 250 mil pessoas perdessem a vida, sem contar o número pelo mundo, só para cancelar o carnaval como punição, ultrapassa o limite do ridículo. Então Deus compactuou com o holocausto e a escravidão “de boas”, mas puniu o mundo por causa de um carnaval?! Ah! Antes que eu me esqueça: o que a religiosidade mata primeiro, é a racionalidade.

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