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Buffoniando

Ansiedade e a vida estudantil

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A escola é uma fase imprescindível para a formação humana. Passamos em média 15 anos de nossas vidas nessa instituição e nela são reforçados valores que também aprendemos na família e na sociedade. Também somos estimulados a repartir e  compartilhar saberes, horários, brinquedos, brincadeiras, o espaço físico, materiais e a professora, geralmente é uma professora, que possui um lugar especial na vida estudantil, sobretudo no Ensino Fundamental 1. Vamos crescendo biologicamente e intelectualmente e vamos transitando nas fases do desenvolvimento biológico e cognitivo.

Se pudemos escolher somente uma lição tirada desse período pandêmico, essa lição é: a escola ainda é fundamental para o desenvolvimento humano. Ao sermos postos em distanciamento social, também fomos obrigados a mudar para um ensino híbrido ou remoto. Não que seja ruim, mas o problema é que foi de maneira abrupta. E no meio dessa mudança foi-nos tirada a escola, que além de ser responsável pelo ensino acadêmico, igualmente é um local de fuga de determinadas realidades vividas fora dela, pois lá podemos praticar esportes e conversar com pessoas queridas que gostamos de estar perto.

Quando falamos na escola, estamos falando do local específico com profissionais e uma rotina específica. Mas quando tecemos uma crítica sobre a escola, na verdade, o alvo é o sistema escolar. Ou seja, as normas diretivas basilares que conduzem as escolas, de modo geral. Infelizmente, o sistema educacional brasileiro está parado no tempo. Temos alunos que são nascidos no século XXI e imersos nas tecnologias, mas nosso sistema educacional ainda está preso num conceito de transmissão de conhecimento baseados na Revolução Industrial. Portanto, uma formação que ensina a executar tarefas e ordenanças, que estimula a memorização mas não a aplicabilidade e o sentido daquilo. Passa-se o tempo e a metodologia costuma ser, salvo exceções, o conteudísmo (abarrotar o aluno de matérias e tarefas em prazos curtos). É o ensino baseado na linha de produção fordista, que visa a formação para preencher postos de trabalho e nada mais.

Se há algo que foi reforçado durante esses anos atuando como professor, é: cada um possui características e tempos diferentes de aprendizado. Um aluno não aprende igual o outro e não aprende no tempo do outro. As pessoas são individuais e isso deve ser respeitado. A cobrança para que o aluno aprenda determinado conteúdo num certo espaço de tempo promove mais fracasso do que sucesso. Como cada um possui um tempo, a pressão e a sensação de não ter conseguido, geram sentimentos de desvalor e desprazer. Quando o aprendizado deveria ser algo inesquecível e prazeroso, torna-se uma tormenta e a morte de talentos que poderiam ser mais bem trabalhados.

E a pressão sobre a nota? Devemos lembrar que a nota nada mais é do que um número que diz respeito sobre uma avaliação. Claro que ninguém quer tirar uma nota ruim, aliás, um aluno que costuma ter um desempenho bom pode tirar uma nota ruim. Como? Um dia ruim, problemas em casa, uma notícia triste, são muitos os fatores que podem causar isso.  Mas o que pode fazer um aluno ruim tirar uma nota ruim? Primeiramente esse rótulo que é dado. Essa etiqueta de aluno ruim. Como se ele fosse apenas uma nota e não um ser humano que possui limites. Quando um adulto como os pais ou professores rotulam dessa forma, o aluno tende a acreditar que ele é ruim e o resultado é o fracasso acadêmico. Quando o desempenho e a cognição dele poderiam mudar com uma outra estratégia pedagógica e claro, o esforço que ele tem que fazer. Ele jamais poderá ser isentado das suas responsabilidades.  Já parou para pensar que esse aluno sofre? Que esses rótulos não ajudam em nada! Se a educação não for vista como algo que seja realmente algo que insira e faça um jovem partícipe da sociedade democrática e inclusiva, essa educação fracassou.

A educação do século XX, fordista por excelência, privilegiava as habilidades matemáticas mais que as demais. Verdade seja dita, muitas outras habilidades e competências eram praticamente sepultadas, pois já se esperava que o aluno fizesse determinado curso técnico ou fosse para alguns cursos específicos do Ensino Superior.  Baseado na avaliação de QI, que explora habilidades matemáticas, o século XX especificava os gênios, os medíocres (medianos) e os burros (chamados assim informalmente). Se as pessoas são diferentes, os sonhos são diferentes, os gostos são diferentes, as paixões são diferentes, as habilidades e competências são diferentes e por fim, as votações são diferentes. Se a escola também prepara para o mercado de trabalho, por qual razão não abrir as possibilidades e a busca da felicidade para o aluno, já que ensina-se o tempo todo que devemos fazer o que gosta. Será que o aluno só poder ser advogado? Médico? Engenheiro? E aquele que quer ser ator? Ser músico? Artista plástico? Atleta profissional? Será que esses sonhos devem ser podados? Será que eles não merecem buscar seus sonhos? Ou ele tem que ser militar só por causa dos benefícios da carreira? O sistema educacional brasileiro prioriza determinadas carreiras em detrimento de outras, quando deveria ajudar e orientar para que seguissem suas vocações e a exercessem bem. Quantas vezes um professor já fez piada com o sonho de um aluno e gerou ali a morte de um sonho e produzindo ansiedade no aluno, já que ele terá que escolher algo que ele não se identifica e lhe foi imposto. Onde estará a realização pessoal dele?

Vivemos um tempo em que a ansiedade toma conta do espaço escolar. Aqui, não nos alongamos em outro fatores e nossa reflexão ficou restrito ao sistema escolar, que é mais punitivo do que acolhedor. Temos uma herança de querer formar para o mercado, valorizar determinados saberes e áreas em detrimento de outras, de ter uma lógica produtivista de atividades em tempo reduzido, de desejar boas notas como sinônimo de aprendizado e não o aprendizado em si e poderíamos escrever mais. Obviamente, o aluno possui sua parcela de responsabilidade com seus compromissos e desenvolvimento, nada tira a responsabilidade dele. Mas, me atrevo a dizer por experiência que: a maioria das escolas no Brasil não procuram se renovar pedagogicamente. E essa não renovação continua produzindo carros Ford T preto. Essa não renovação só produz carne moída (você já viu como ela é feita no mercado?). Vivemos um sistema que cobra o êxito baseado em notas e não em construção de cidadãos ativos e felizes com suas habilidades e competências evoluídas. Por qual motivo temos tantos jovens ansiosos e cada vez mais vemos crises ansiosas nas escolas?

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