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Ciência

Estudo revela mecanismo por trás de miocardite em adolescentes após vacina da Covid

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Antes de serem aprovadas para uso em larga escala, milhares de pessoas em todo o mundo foram submetidas à avaliação de segurança e eficácia das vacinas contra a Covid. No entanto, alguns efeitos raros associados à vacinação podem ser detectados apenas após a aplicação em milhões de pessoas.

Entre esses efeitos está a miocardite ou pericardite, uma inflamação do tecido cardíaco, que foi observada em um número muito pequeno, mas clinicamente significativo, de jovens e adolescentes do sexo masculino que receberam a vacina da farmacêutica Pfizer.

Em busca de entender esse fenômeno, pesquisadores da Universidade de Yale publicaram um novo estudo na revista especializada Science Immunology, nesta sexta-feira (05), que revela como ocorre a miocardite após a vacinação contra a Covid-19. Segundo uma reportagem do jornal Folha de São Paulo que repercutiu o estudo, o mecanismo por trás desse evento adverso era desconhecido até agora.

Estudo revela mecanismo por trás de rara miocardite em adolescentes após vacina da Covid.

Segundo a pesquisa, a miocardite não está associada aos anticorpos induzidos pela vacinação, nem a doenças autoimunes ou hipersensibilidade aos componentes da vacina. Os pesquisadores observaram que o próprio organismo do paciente responde de forma exagerada à inflamação do tecido, produzindo danos adicionais.

O estudo analisou 23 amostras de sangue de pacientes com idades entre 13 e 21 anos, sendo 87% homens, que apresentaram miocardite de um a quatro dias após a segunda dose das vacinas de mRNA. Os sintomas incluíram dores no peito, palpitações, febre e falta de ar, entre outros. Indivíduos vacinados com duas doses da vacina monovalente e que não apresentaram miocardite foram incluídos como controle.

Vacina contra a Covid-19.

Os resultados mostraram que pacientes com miocardite apresentaram uma quantidade elevada de citocinas e glóbulos brancos, que agiram de forma a atacar o próprio organismo. Essas células de defesa, chamadas de NK ou natural killers, são responsáveis por destruir outras células do organismo que estejam infectadas por vírus ou agindo de maneira errática. Os autores chamaram esse fenômeno de “citocinopatia”, ou uma condição causada pelas citocinas, semelhante à tempestade de citocinas que ocorre em alguns casos de infecção pelo Sars-CoV-2 no pulmão.

De acordo com a professora associada de imunologia na Universidade de Yale, Carrie Lucas, o estudo que ela liderou é importante porque permitiu entender melhor um efeito adverso raro, observado em uma pequena quantidade de crianças e adolescentes vacinados. Lucas enfatiza que, embora raro, o efeito só pôde ser observado em grande escala porque milhões de crianças foram vacinadas contra a Covid-19. Lucas sugere que um intervalo maior entre as doses possa reduzir o risco de miocardite em pacientes vacinados.

Novo coronavírus.

Akiko Iwasaki, imunologista e pesquisadora principal do Laboratório de Imunologia da Universidade de Yale e do Instituto Médico Howard Hughes, explica que, nas amostras dos pacientes, não foram encontrados marcadores indicando uma resposta induzida pela proteína S do Spike, sugerindo que a resposta imune exacerbada não é específica do antígeno produzido pela vacinação ou infecção natural pelo Sars-CoV-2. Iwasaki é uma das principais pesquisadoras na área de resposta imunológica e investiga como o organismo combate vírus e patógenos novos e a resposta gerada por vacinas ou proteção induzida por infecção natural.

Os pesquisadores sugerem que, ao menor sinal de dores no peito e palpitações em crianças e adolescentes, é importante procurar acompanhamento médico imediatamente, pois a miocardite é tratada com sucesso na maioria dos casos. Embora o uso de corticosteroides seja comum no tratamento da inflamação, seu uso a longo prazo precisa ser considerado cuidadosamente, por isso não é recomendado o uso de anti-inflamatórios profiláticos para prevenir a miocardite.

Vacinas contra a Covid-19.

É importante notar que a pesquisa analisou apenas casos de miocardite em pacientes que não tiveram um quadro prévio de Covid, e que há um risco maior de miocardite ou pericardite em consequência da infecção pelo coronavírus e sequelas da Covid longa, embora isso não tenha sido avaliado no estudo.

Segundo dados do CDC americano, a incidência de miocardite na população adolescente masculina é de 36 casos a cada 100 mil pessoas, enquanto a incidência de infecção por Sars-CoV-2 é quase o dobro, de 65 casos por 100 mil pessoas.

Embora a pesquisa tenha ajudado a identificar possíveis marcadores para a ocorrência de miocardite, como a alta concentração de interleucinas no sangue, atualmente não existem exames disponíveis para prever essa reação.

Os pesquisadores acreditam que o próximo passo deve ser buscar meios de produzir testes diagnósticos específicos para detectar rapidamente a miocardite e iniciar o tratamento o mais cedo possível. Ainda não foi possível determinar os gatilhos da miocardite, mas pode haver um fator genético que torna certos indivíduos mais suscetíveis a essa inflamação.

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